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Foto do escritorNathan Fernandes

O que a morte de uma pessoa em um ritual de ayahuasca revela sobre a forma como usamos o chá



O ator Micael Amorim, de 26 anos, perdeu a vida em uma cerimônia com ayahuasca, no Distrito Federal, no dia 23 de julho. O caso reacende as discussões sobre a possibilidade de negligência por parte de dirigentes, a banalização do uso do chá de origem indígena e o papel da imprensa na cobertura de pautas que envolvem o tema dos psicodélicos.


De acordo com a reportagem do site Metrópoles, o ator teria ingerido, ao todo, três doses do chá, sendo que a última teria sido servida 30 minutos antes do fim da cerimônia. Depois disso, Micael teria apresentado confusão mental e ameaçado se jogar em uma fogueira, sendo contido pelos participantes do ritual. Um deles chegou a assoprar três porções de rapé em suas vias aéreas. O ator então se recolheu e, quando perceberam, ele já não tinha mais vida. De acordo com as fontes, ele, supostamente, teria sofrido parada cardiorrespiratória e não resistiu. O caso está sendo investigado. Não se sabe ainda qual a influência do rapé no caso, mas é sabido que Micael tinha uma condição cardíaca.


Em um post que circulou no Facebook, o cientista social Glauber Loures de Assis (@glauberloures), doutor em sociologia e pesquisador de plantas sagradas, questionou: “Será que essa casa onde aconteceu a tragédia é muito diferente de tantas outras que têm por aí?”.


No texto, ele aponta caminhos que podem ser feitos a fim de evitar ocorrências do tipo. “Você pode começar parando de comprar ayahuasca na internet e denunciando o comércio indiscriminado dessa bebida tradicional. Também pode começar denunciando abusos sexuais e outras formas de violência que você tenha testemunhado acontecendo em espaços ayahuasqueiros.”


Assis levanta ainda outras questões importantes: “Quais são os protocolos de recepção de pessoas no local onde você frequenta? Como é a entrevista de acolhimento? Existem pessoas preparadas para lidar com situações de surto no seu espaço?”.


O Ciência Psicodélica lamenta profundamente a morte de Micael Amorim, e reforça a necessidade de que casos do tipo sejam investigados e que não permaneçam escondidos. É somente através de discussões sérias que o estigma e os preconceitos que envolvem religiões não cristãs, bem como as próprias substâncias psicodélicas, poderão ser desmistificados, contribuindo para um ambiente de maior conhecimento.


O Ciência Psicodélica também lembra que é importante seguir os protocolos de segurança para o uso do chá. É contraindicado que pessoas com histórico de esquizofrenia e bipolaridade, ou aquelas que tomam antidepressivos (especialmente os inibidores da monoamina oxidase - IMAO) consumam a bebida. Além disso, o ambiente, a forma de acolhimento e o estado mental da pessoa também devem ser levados em consideração em qualquer experiência com substâncias psicodélicas.


Lembramos ainda que a omissão de informações sobre os mecanismos de funcionamento do chá em reportagens do tipo ajudam a atribuir a culpa à substância, quando, na realidade, a situação é sempre mais complexa do que isso. Casos tristes como este não devem diminuir a importância da psicoterapia assistida com psicodélicos e dos estudos que ganham cada vez mais robustez sobre a importância dos psicodélicos para a saúde mental.


Através da divulgação de informações, o Ciência Psicodélica espera contribuir para que o dabate sobre psicodélicos seja cada vez mais aprofundado.


 


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