A sétima edição dos Encontros Psicodélicos convidou jornalistas de diferentes segmentos para conversarem sobre a relação da imprensa com os psicodélicos, traçando um perfil de como as substâncias passaram a ser representadas, desde o surgimento da atual “Renascença Psicodélica”.
Marcelo Leite, autor do livro “Psiconautas: Viagens com a Ciência Psicodélica Brasileira” e criador do blog “Virada Psicodélica”, da Folha de S.Paulo, realçou a importância da perspectiva pessoal do jornalista nas reportagens, o que contraria o padrão dos textos ditos imparciais. “Acho que incluir um relato pessoal — seja do jornalista ou de outras fontes — enriquece muito, dá ao leitor uma percepção mais clara, algo com o que ele possa se identificar”, observou. “Isso faz de mim um militante da causa psicodélica? Não, acho que continuo sendo um divulgador.”
Para Caroline Apple, que já colaborou com veículos como Folha de S.Paulo, Agora SP, UOL e Vice, e é idealizadora do projeto Namastreta, jornalistas que cobrem substâncias psicodélicas precisam usar mais do que a razão. “Sempre notei que para escrever sobre um universo do qual não fazemos parte é preciso ter uma sensibilidade muito grande, ter realmente uma escuta muito ativa, se não você acaba escorregando nos termos que você acha correto, mas não são os que o grupo usa, por exemplo.” O risco é ser sensacionalista e prestar um desserviço, mesmo que de forma indesejada, acredita.
O ex-editor da revista Galileu Nathan Fernandes, que integra a equipe do Ciência Psicodélica, conectou a sensibilidade no trato dos temas psicodélicos à cobertura de questões voltadas aos direitos humanos, e falou ainda sobre o que aprendeu pesquisando sobre o assunto. “Foi muito interessante descobrir que, para a ciência, essa questão subjetiva dos psicodélicos não é menosprezada, ela é tão importante quanto a questão objetiva”, observou. “O mistério é tão importante quanto o factual. E, como jornalista, descobrir isso me fez crescer muito.”
A conversa contou com mediação do professor Luís Fernando Tófoli, coordenador responsável pelo grupo de pesquisa ICARO, na UNICAMP; e a apresentação foi feita pelo psicofarmacologista Lucas Maia. O debate fez parte da série “Encontros Psicodélicos: conversas interdisciplinares sobre ayahuasca e outros psicoativos", uma cooperação mensal entre o portal Ciência Psicodélica (CP); o projeto Healing Encounters, do CNRS (Centro Nacional de Pesquisa Científica), em Paris; e o ICARO; com apoio do Instituto Chacruna.
Assista a conversa na íntegra:
Comments